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Além das colinas verdejantes

Dora OLIVEIRA


 

 

Passar as folhas do álbum de fotografias vagarosamente, observar os detalhes, as expressões. Minha vida compilada em um diário de imagens e não um diário escrito, como é comumente usado. Abro o álbum a esmo. Dou com a foto de minha formatura. Professora! Só Deus sabe quanto me custou aquele diploma. O brilho nos olhos, a felicidade pela conquista e sempre aquela sombra, a sensação de felicidade incompleta, que me acompanhou por toda a vida. Senti aquilo pela primeira vez, na cerimônia de colação de grau, parecia estar faltando alguma coisa. A noite do baile foi esplendorosa! Meu vestido branco de renda e cetim, feito pela melhor costureira da cidade, realçava. Quantos anos ele permaneceu no guarda-roupa? Pessoas de minha geração têm mania de guardar tudo mesmo. Guardamos roupas de batizados, pagãozinhos, mantas, cartões, cadernos, santinhos, coisas para nos recordarmos. Nos últimos anos percebi, que o lugar mais seguro para nossas lembranças é o nosso cérebro. Imaginem que até outro dia, eu guardava presentinhos dos meus alunos, desenhos, cartões de natal de várias décadas e cartões do dia das mães, oferecidos pelos meus filhos. Papéis encardidos, me trazendo de volta as lembranças da juventude suprimida pelo tempo. Há uns três anos, tenho jogado muita coisa fora. Por mais que doa, quero poupar esse trabalho aos meus filhos, quando eu me for. Terão que se desfazer de coisas inúteis para eles.

Folheio o álbum. Encontro uma lembrancinha daquelas que são distribuídas na missa de sétimo dia. É do Juarez, meu aluno morto de tétano, aos treze anos de idade. Relembro as cenas do velório, o desespero da mãe. Depois de enterrar o filho, ela se vestiu de preto pelo resto da vida. As pessoas se enterravam com os entes queridos e trajavam luto eterno. Em outra página, um cartãozinho carinhoso de minha caçulinha. Revejo-a pela casa, mimada pelo pai, teimando em usar meus sapatos altos. Na página aberta do álbum, a foto grande do batizado de Marcos, o meu primogênito. Como o pobrezinho chorava durante a cerimônia! Conseguimos faze-lo calar-se por alguns momentos, aparece bem sereno na foto. Padre Messias aparece em várias seqüências de retratos, já que celebrou minha primeira comunhão, meu casamento e batizou todos os meus filhos. Aparecem meus sogros, meus cunhados, sobrinhos, meu marido e aquela sombra, aquela ausência doída.

Volto à página inicial do álbum. Hoje tenho tempo para divagações. Deter-me em cada fotografia, cada instante da minha vida e as reminiscências que elas transportam. Por que as passagens sofridas, ruins, marcam mais que os momentos prazerosos e bem vividos? Os registros mentais de acontecimentos desagradáveis são sempre mais nítidos, enquanto os bons passam rápidos como um filme embaçado. A fazenda onde nasci é um retrato pequeno e amarelado. Consegui-o depois da morte de meu pai e preguei no início do álbum, para ordena-lo. Das amplas varandas do casarão avistava o horizonte. Sabia, que havia algo mais, além das colinas verdejantes de minha querença, assim como ainda há muitas coisas, além das janelas deste apartamento, onde hoje resido.

Meu pai reinava nos limites daquela vastidão de terras. Plantavam de tudo, a fartura era imensa. Cultivavam hortas bem cuidadas e o pomar era o mais diversificado e completo das redondezas. Criavam gado, porcos e galinhas para o nosso consumo e para negociar. Neto de fazendeiros portugueses e escravagistas, era generoso com empregados e meeiros. O ditado corria solto:

-Nas terras do Sô Leopoldo ninguém passa fome.

E era verdade. Para quem chegasse, tinha sempre mesa posta com almoço, ou café com leite, queijo, bolos e quitandas variadas. Meu pai estufava o peito orgulhoso:

-Nós nos garantimos. Só compramos querosene pras lamparinas e sal na cidade. O resto vem do que plantamos e do gado que criamos.

O trabalho era muito por ali, ocupava todo o nosso tempo. Minha mãe nos ensinou a cozinhar ainda crianças. Levantávamos cedo para prepararmos o almoço dos trabalhadores, ralar a mandioca para fazer polvilho e farinha, ralar o milho para o angu. Brincar nem pensar. Éramos doze e quem de nós deu-se o prazer de brincar de belisco, maré, ou boneca? Brincar era luxo de criança da cidade. Se nos pegassem passando anel, ou brincando de roda, ganhávamos um sermão, que não nos esquecíamos nunca. Desde menina, sempre me encabulou o sentido daquela vida. Tínhamos tudo, mas comíamos para trabalhar e trabalhávamos para comer. A vida ali me parecia bronca, sem horizontes. Estudávamos em uma fazenda próxima, onde uma professora alfabetizava os filhos dos fazendeiros das vizinhanças. Pelos livros eu viajava por um mundo desconhecido e diferente da minha realidade, onde havia automóveis, luz elétrica e rádio. Imaginava como seria tudo aquilo, a forma, o funcionamento e a alegria que proporcionava. Não admitia passar a vida inteira regando couves, enchendo lingüiça, fazendo queijo, tinha que haver outro objetivo além de trabalhar-comer-dormir. Enquanto fazia os deveres da escola, pajeava meus irmãos mais novos. Meninos misturados com cadernos, lápis, amendoins, espigas de milho e sonhos. O Choro de Miudinha me resgatava das fantasias, Toninho queria passear, engatinhava para o terreiro, tinha que largar a tabuada.

Concluí o primário, convicta de que continuaria os estudos. Iria morar na cidade para cursar o ginásio. Encontrei uma barreira aparentemente intransponível em meus pais.

-Uma moça sozinha na rua, não tem cabimento, não é direito. Vai acabar se perdendo. –Minha mãe argumentava.

-Pra que estudar? Mulher não precisa disso não, mulher tem de casar e cuidar da família. Quem tem de estudar é homem, que vai sustentar os filhos. Mulher não precisa de dinheiro não. – Meu pai emendava.

Padre Messias foi à fazenda Santa Felicidade interceder por mim. Compreendia os meus propósitos, o meu interesse, comovia-se com minha situação:

-Deixe a menina estudar, Sô Leopoldo, não tem perigo. Ela fica na casa de sua irmã.

-Não posso. Não pude estudar os filhos mais velhos. Se estudar essa aí, os outros vão reclamar. Não é direito com os outros.

-Mas, isso são circunstâncias...

-Se estudar essa, as mais novas vão querer também. Não tenho dinheiro pra pagar estudo pra todas. Não vai ser correto com as mais novas.

-Quando se formar, ela vai lecionar e ajuda a pagar o colégio das outras.

-A mãe dela não pode ficar sozinha aqui na roça e na cidade é perigoso pra moça solteira. –Nada convencia meu pai, suas palavras soavam como chicotadas. Meu coração se apertava diante da intransigência pétrea.

-Se é questão de dinheiro, eu empresto a ela. Quando se formar e começar a trabalhar, ela me paga.

-Que absurdo, Padre, isso não tem cabimento. Vamo acabar com essa prosa, vamo entrar, que o café já ta na mesa.

O Padre resignou-se. Foram dias de profundo marasmo. Vivia um inferno intimo, naquele paraíso bucólico. Eu lia tudo que encontrava pela frente. Devorava livros, bulas de remédios para gado e gente, pedaços de papel de embrulho das lojas e folhinhas. Era raro aparecer algum material de leitura, só a bíblia era bem-vinda na fazenda. Casualmente, encontrei um pedaço de jornal amassado, no quarto onde uns parentes nossos da capital haviam dormido. Li e reli, desde o cabeçalho, até o rodapé. A matéria dizia, que homens e mulheres atingiam a maioridade aos dezoito anos e tinham alguns direitos constitucionais. Não pude terminar a leitura, a última parte do artigo estava rasgada. Entendi aquilo como um lampejo. Era esperar a maioridade e seguir o meu rumo.

Os anos se arrastaram sonolentos. Finalmente, chegou o meu décimo oitavo aniversário! Evoquei os santos e toda a coragem do mundo, naquela madrugada decisiva. Arrumei minhas roupas com cuidado para não fazer barulho. A luz da lamparina findava. Escutava a respiração de minhas irmãs que dormiam serenamente. Fiz uma trouxinha com as melhores roupas que possuía. Minhas mãos tremiam, mal consegui abrir a tranca dura de pau, da porta da sala. Passei pela varanda rápido e decididamente. Vacilei, ao chegar no pomar e passar pelo curral. A Vaca Malhada de bezerro novo me reconheceu, meu coração se apertou. Estava determinada, ao mesmo tempo, sentia pena e tristeza. Ao tomar a estrada da cidade, não deixava para trás somente as opressões paternas, a falta de compreensão, de apoio e objetivos, deixava também, momentos ternos de convivência familiar. Ficavam para trás, o leite espumoso, tirado na hora, na canequinha esmaltada, o engenho, a garapa e o melado quentinho, as conversas na cozinha ao pé do fogão à lenha. Quase recuei, voltar silenciosamente para o quarto, me sentia uma traidora. Tinha que seguir, o futuro me esperava, o que seria de mim, nos próximos dias, nos próximos anos? Esperaria um marido, certamente. O cachorro Leão me acompanhou até a porteira. Parti resoluta.

Cheguei à cidade quase ao amanhecer. Fui direto à casa de Padre Messias. Bati levemente na janela de seu quarto. Ele já estava acordado para a missa das seis, assustou-se bastante com minha aparição repentina.

-Por favor, Padre, me ajuda. Estou completando dezoito anos hoje. Li, que tenho alguns direitos com essa idade. Quero estudar, sair lá da fazenda. Deixe-me morar aqui e estudar, depois, pago tudo ao Senhor.

-Bem, minha filha, você tem direitos, mas não é bem assim. E a sua obediência? Não é certo fazer isso com seu pai...

-E o que ele está fazendo comigo é certo? Um dia, ele esquece tudo e me aceita de volta. Prometo que não vou desapontar, serei comportada e estudiosa.

Não precisei relutar muito para convencê-lo. A notícia de minha fuga correu pela cidade, pelas fazendas, tomou proporções absurdas. Diziam, que eu havia fugido com um rapaz, que havia sido expulsa de casa, grávida e fora para o prostíbulo, que batera em minha mãe e outros venenos destilados pelas línguas de ociosos. Todos baixavam o topete ao me verem nas missas e freqüentando a escola normalmente. Meu pai apareceu na paróquia com o Delegado, fazendo escândalo. Acusou Padre Messias de aliciamento e indução.

-Ela veio por vontade própria, não forcei, só acolhi. Deixe a menina estudar, Sô Leopoldo, ela tem um belo futuro pela frente.

-O Senhor está virando a cabeça dela, com essa história de livro. Pra que estudar? Estudo é luxo inútil pra mulher. Moça que estuda, acaba casando com vagabundo e acaba sustentando ele, isso sim! Ela tem é de casar, já tá passando da hora. Arruma suas coisas, Do Carmo, vamo pra casa! Você tem obrigação de me acompanhar, senão, mando prender esse Padre, que só Deus sabe, com que intenção ta fazendo tudo isso.

Eu não sabia o que fazer. Foi naquela hora, que Padre Messias engrossou, deixou a educação de lado e falou alto:

-Pode até me prender e leva-la de volta, mas ela também, pode denunciá-lo Privar os filhos de estudarem dá cadeia, isso é lei, sabia? O Senhor vai preso e ela continua estudando. Vamos entrar em acordo, fica tudo como está.

O Delegado não queria problemas, ponderou. Meu pai resolveu retirar-se depois de olhar-me fixamente:

-Filha ingrata!

Aquele olhar me acompanhou por muitos anos. Aquelas palavras queimaram meus ouvidos nas noites insones. Que culpa tinha eu, por querer realizar meus sonhos? Vivi na casa de Padre Messias e sua irmã até me formar. Ela era tão severa quanto minha mãe. Eu tinha que fazer o trabalho doméstico antes de ir para o colégio. Nada importava, estava estudando, aprendendo e progredindo. Aos olhos da cidade, era uma perdida, uma ovelha desgarrada, que teria um futuro sombrio, certamente, uma vida promíscua. As beatas faziam previsões nefastas, os homens jogavam piadas maliciosas, comprometendo o meu protetor:

-Padre danado, pegou uma franguinha nova, ta lavando a égua!

Muitas senhoras não deixavam suas filhas saírem comigo. Temiam o mau exemplo que eu poderia dar. Ao final do ginásio, ventilava pela cidade, que seria inaugurado no próximo ano, o curso normal. Fiquei deslumbrada com a possibilidade de não precisar estudar na Capital. Quantas moças poderiam ser professoras em nossa terra! As autoridades locais se empenhavam nesse intento. Para nossa decepção, a diretora do ginásio que deveria trabalhar pela causa, era contra:

-Não é possível! Se em nossa cidade tiver o normal, qualquer empregadinha doméstica vai ser professora, não pode! Professora tem que ter classe, berço. É para as filhas de fazendeiros, de funcionários da Prefeitura, não para as filhas de um qualquer. Não devemos misturar.

Foi a maior aberração que escutei em minha vida, superando meu pai, vir de uma acadêmica, uma educadora. Na reunião, enfrentei aquela mulher, mostrei minha indignação. Ela me humilhou em publico:

-Você é uma, que não pode ser professora. Embora seja filha de um homem de bem, comporta-se como uma empregadinha, uma desclassificada que não honra o nome de sua família.

Para desgosto da pseudo-educadora, o normal foi inaugurado e pude estudar com mais facilidade. Comecei a namorar Casimiro no último ano, quando era estagiária no grupo escolar. Ele era filho de um fazendeiro adversário político de meu pai. Casei-me pura, com as bênçãos do querido Padre Messias. Não permitia maiores liberdades com meu noivo, não queria dar razão às previsões e agouros passados. Chegou aos meus ouvidos, que meu pai declarava inimigos, aqueles que comparecessem ao meu casamento. Achava que eu escolhera mal o noivo e via nisto, mais um motivo para se afastar de mim. Encontramo-nos na rua, tentei falar-lhe, convidá-lo para o casamento. Ele me virou as costas. Encontrava minhas irmãs na igreja, que me davam notícias de minha mãe. Tinha pena delas, reprimidas, sem coragem de reagirem. Imaginava-me como elas, se não tivesse tomado a decisão e agradecia a Deus pela fibra. Orgulhava-me pela força e determinação.

As fotos do meu casamento mostram a igreja cheia, parentes de Casimiro e muitos parentes meus, que não fizeram caso das ameaças de meu pai. Faltava alguma coisa ali. Aquela ausência era o que mais realçava.

Força e determinação tinham estoques inesgotáveis em mim. Recém-casada percebi, que teria de me abastecer todos os dias dessas qualidades natas. Iniciar minha carreira no magistério foi outra batalha. A diretora da escola ainda era a preconceituosa, que tentara impedir a instalação do curso normal e fez de tudo para não me admitir no corpo docente. Assumi uma cadeira na escola por concurso público e mesmo assim, me perseguiu até o fim. Ela deixou a diretoria somente após a morte. Minha profissão proporcionou-me muitas alegrias e realizações, além da independência financeira. Refletia sempre no que tive que fazer, que romper para ser alguém. Pensei que esqueceriam com o tempo, que relevariam. Nada foi esquecido. Sentia amarguras, saudades, nunca arrependimento e culpa. Os filhos vieram, mais trabalho e preocupação. Encarava tudo com naturalidade. Trabalho não me espantava, filhos eram dádivas de Deus. Casimiro sempre vivera do dinheiro e do nome do pai. Não tinha trabalho fixo, passava os dias entre a fazenda e os bares da cidade. Na realidade, o sustento da casa vinha do meu salário. As palavras de meu pai ecoavam, quando via meu marido chegar bêbado em casa:

-Moça que estuda acaba casando com vagabundo e tem que sustentar ele.

Sentia uma pontinha de tristeza, tinha que dar razão a ele. Nestes momentos, travava uma luta com minhas ideologias, conceitos e valores. Não, meu pai não tinha razão. Moças sem estudos também se casavam com vagabundos. Se eu não tivesse minha profissão sofreria dobrado. Eram situações opostas, acabava concluindo e readquirindo a autoconfiança. Surgiram os fuxicos de uma suposta amante de Casimiro, não se falava outra coisa na cidade. Tinha que suportá-lo bêbado em casa e ouvir novamente, as piadinhas maldosas na rua. Nas lacônicas tardes de domingo, em que chegava atrasado para o almoço e caia embriagado na cama, pensava em me separar, tocar minha vida sossegada, sem aquela tortura. Por que tinha que me sujeitar aquilo tudo? Tinham os filhos, o juramento na igreja, a cidade falando... Sempre tive que provar decência àquela cidade. O juramento era forte, sincero, deveria cumpri-lo. Era vista como a boba, a coitadinha, a abnegada, que deixava o marido sair e o aceitava de volta, quando a outra não o queria mais. Foi assim, até quando ele não mais saiu, entrevado pela doença. Fiquei ao seu lado até falecer, como achava que toda esposa devia fazer.

Meus horizontes eram amplos para as estreitas ruas de minha cidadezinha. Acompanhei meus filhos que vieram estudar na Capital. Dever cumprido, vida pacata, sem grandes atropelos. Se os dissabores marcam mais e são mais vivos em nossa memória, creio, que as coisas positivas que vivemos superam. Nós é que não entendemos a tranqüilidade e a rotina como coisas boas. Perseguimos a grande felicidade e não valorizamos as pequenas alegrias cotidianas.

A campainha está tocando, preciso atender. O álbum continua aberto em minha frente, ainda na primeira página, a foto da fazenda. Minha memória emocional foi mais ligeira e nítida do que as imagens. Não precisei passar as folhas para relembrar tudo que vivi. Vou direto à última página. Encerro o álbum com o retrato dos meus pais, já que foram as grandes ausências nas outras fotos, de todos os acontecimentos de minha vida. Essa sensação de felicidade pela metade, essa amargura de não ter sido perdoada, sempre me acompanharam. E que erros cometi para ser perdoada? Não posso apagar as lembranças, nem montar outros retratos com as presenças dos meus pais, mas os tenho na última página do álbum, como os tive por toda vida em meu coração. Guardo o álbum na estante, vou abrir a porta e deixar a realidade entrar.

 

Dora Oliveira

Ipatinga, MG, BRASIL

 


 



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