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Autor:Van Hoesel, Maria ;
 
AGENDA LATINO-AMERICANA ANO:2015
 

Homem e mulher: direitos iguais na Igreja
 

Maria Van Hoesel


Direitos da mulher na Igreja

Homem e mulher são únicos. A mulher pensa, sente e experimenta a vida do seu jeito, único. Criada à imagem do Criador, a mulher, não menos que o homem, é criadora do nosso mundo humano, por meio de sua dedicação, suas habilidades, seus talentos e carismas. Apresentamos entre nós um Deus que é amor, Jesus habilitou também as mulheres para representar esse amor: para ser arautos da Boa Nova, ministras de seus sacramentos de vida. As mulheres são pessoas humanas plenas, e cidadãs de pleno direito na comunidade de amor de Jesus.

Para captar o status e a missião da mulher na Igreja em todas as suas dimensões, precisamos primeiro exorcizar os demônios que asfixiaram a fé e a vida cristã por muitas gerações.

Confrontando o passado

Em nossa longa história como comunidade cristã, cometemos diversos erros. Agora admitimos com vergonha que toleramos a escravidão, o racismo, as conquistas coloniais, a exploração dos pequenos... E quanto às mulheres? A Igreja permitiu que as mulheres de nossa comunidade – nossas mães, irmãs e filhas – fossem tratadas como membros de segunda classe. E o que é pior: apresentou razões religiosas para provar sua inferioridade.

Os professores e pregadores responsabilizaram Deus por isso: foi Ele quem fez o homem mais forte, mais inteligente e confiável que a mulher – segundo eles. O Criador teria dado o controle ao homem, e submetido a mulher à sua autoridade. É também o que teria querido Jesus, diziam. Jesus teria dito que seriam os homens, não as mulheres, que o representariam nos sacramentos. Eles deveriam presidir a Eucaristia. As mulheres deveriam se dedicar a servir, a ter filhos, tal como a Virgem Maria, cuja principal virtude foi a humildade, apesar de ser a Mãe de Deus.

Para nos livrarmos do demônio dos preconceitos contra a mulher, é preciso ir mais além.

Nossas raízes nas culturas pagãs

Nenhuma discriminação vem de Deus. Pois bem: isto também se aplica ao caso da mulher.

A fé cristã cresceu no ambiente das culturas judaica, grega e romana. A fé cristã não tinha experiência, e, com frequência, não soube detectar os valores equivocados das sociedades em que se desenvolveu. Também isto afetou a sua posição quanto à mulher. Em todas as sociedades daquele tempo a mulher era considerada como de segundo escalão. Acreditava-se, por exemplo, que a mulher não era um ser humano completo; só o homem carregava a semente que, segundo se pensava, continha a futura pessoa completa. As mulheres eram como o terreno no qual se planta a semente. Pensava-se: O homem produz a vida e a mulher simplesmente a alimenta.

Mais: dava-se por fato que os homens deveriam governar e as mulheres obedecer. A lei romana expulsou as mulheres do setor público. A mulher não podia testemunhar nos julgamentos. Não tinha qualquer direito em relação aos filhos. O marido tinha toda a autoridade na casa. E tudo isso era para proteger as mulheres, com suas mentes pobres e seu caráter débil...

Enquanto primeiro passo para dar conta dos erros cometidos contra as mulheres, deveríamos expor a origem profunda desses erros. A causa raíz está no mundo cotidiano em que nossos ancestrais cristãos viveram: seus costumes sociais, sua maneira de pensar e de falar, o que pensavam da natureza humana, as tradições de suas religiões pagãs. A origem mais profunda da discriminação contra a mulher foi uma visão de mundo que ainda não tinha sido realmente corrigida pela visão de Jesus.

Durante 19 séculos, os cristãos continuaram tolerando a escravidão por não terem compreendido a igualdade fundamental de todos os seres humanos inerente à mensagem de Jesus. Isto é, em nosso caso, os cristãos discriminaram a mulher porque ainda pensavam como pagãos e não tinham a plenitude da visão de Jesus. Mas isso não é tudo...

Racionalização.

Sim, a cultura pagã foi a causa do problema. Mas não foi a única. Olhemos o caso paralelo da escravidão, a qual acabamos de referir. Os primeiros cristãos aceitaram a escravidão porque a sociedade pagã em que viviam a aceitava. Então, os pregadores e professores começaram a justificar a escravidão com textos do Antigo Testamento, de antes de Jesus, texto que não observa a mulher da mesma forma que Jesus.

O mesmo aconteceu com o tema da mulher. No Antigo Testamento, os padres e os maridos governavam suas famílias. Os sacerdotes e os levitas do Templo eram homens. As mulheres não podiam apresentar seu próprio sacrifício ao Templo nem fazer votos por sua própria conta. A mulher estava sujeita em tudo ao homem, e isto era visto como uma carga que gravitava sobre a mulher por causa da transgressão que cometeu Eva no Paraíso: Teu marido a dominará (Gn 3, 18)...

Pois bem, os pregadores cristãos começaram a aplicar este princípio às mulheres cristãs. Interpretaram algumas das ações de Jesus à luz do Antigo Testamento, sem se dar conta de que Jesus, como disse Paulo, trouxe uma criação inteiramente nova (2 Cor 5,11).

A mensagem de Jesus

Em seu ministério Jesus deu atenção especial à necessidade das mulheres. Quando a mulher que sofria uma hemorragia tocou Jesus por trás “percebeu que um poder havia saído dele” (Mc 5, 21-43). A mulher sírio-fenícia suplicou a Jesus que expulsasse um demônio de sua filha (Mc 7, 24-30). Jesus também reagiu aos gestos silenciosos da mulher: a prostituta arrependida que ungiu os pés de Jesus (Lc 7, 36-50), a viúva que chorava junto ao caixão de seu filho (Lc 7, 11-17), a mulher encurvada pela artrite (Lc 13, 10-17), a viúva que doou dois óbulos ao templo (Lc 21, 1-4), e as mulheres de Jerusalém que choravam quando ele passou com a cruz (Lc 23, 27-31).

Para seus ensinamentos, Jesus tomou exemplos tanto da vida das mulheres quanto da dos homens. Ele sabia que as mulheres guardam seus tesouros em cofres e que acendem uma lâmpada ao anoitecer (Mt 6, 19-21; 5, 15-16). Falou dos meninos que brincam na praça e das meninas que se iludem com o dote para suas bodas (Mt 11, 16-19; 25, 1-13). Com frequência, disse suas parábolas em pares, uma sobre uma mulher e outra sobre um homem: a dona de casa que põe fermento na massa (Lc 13, 20-21), a mulher que perde uma moeda (Lc 15, 8-10) e a viúva pobre que importunava um juíz (Lc 18, 1-8)...

Jesus convidou os homens e mulheres a entrarem no Reino de Deus do amor por meio do batismo. As mulheres recebem o mesmo batismo que os homens. Esta foi uma mudança revolucionária. Nos tempos do Antigo Testamento, as mulheres não eram membros da Aliança, pois não eram circuncizadas. Eram parte da Aliança indiretamente: através de seus pais e de seus maridos. Não podiam apresentar seus próprios sacrifícios. Mas Jesus mudou tudo isso. Cada mulher batizada vem a ser, tal qual o homem, “outro Cristo”: “Todos os que foram batizados em Cristo foram incorporados a Cristo. Não há discriminação entre judeu e não judeu, escravo e livre, homem e mulher” (Gal 3, 28). Cada mulher batizada partilha plenamente da missão de Cristo como sacerdote, profeta e rei.

Jesus escolheu 12 homens como apóstolos. Escolheu homens porque tinham que substituir os 12 antigos patriarcas. Escolhendo apenas homens não quis excluir as mulheres deste ministério no futuro. Se ele escolheu apenas judeus entre os 12 primeiros, queria Ele que todos os futuros ministros fossem judeus?

Mas, de fato, as mulheres foram ministras, já que várias acompanharam Cristo em seu ministério: Maria Madalena, Joana (a esposa do primeiro ministro de Herodes, Chuza), Susana e várias outras (Lc 8, 1-4).

Jesus confirmou isto na última ceia. Ele quis que fosse uma ceia pascal (Lc 22, 7-16). Agora sabemos que as mulheres sempre participaram nas refeições da comunidade de Jesus de que falam os Evangelhos. Toda a família tinha que tomar parte na ceia pascal, seguindo o ritual (Ex, 12, 1-14). Os Evangelhos mencionam a chegada de Jesus e dos Doze pela tarde (Mc 14, 17), mas outros discípulos haviam preparado tudo, dentre eles mulheres. É certo que sua mãe Maria e outras discípulas estavam lá.

Foi a todos os discípulos, homens e mulheres, que Jesus disse: “Tomai todos e comei: isto é o meu Corpo. Fazei isto em memória de Mim.” . Assim o “todos” inclui homens e mulheres. Ninguém jamais duvidiou que Jesus queria que as mulheres recebessem a comunhão, assim como os homens. Como é possível duvidar que Jesus habilitara as mulheres tanto quanto os homens para celebrar sua memória através da Eucaristia? O Concílio de Trento afirmou, em 1562, que Cristo institui o sacerdócio eucarístico exatamente com as palavras “Façam isto em memória de mim”. Se assim foi, as mulheres não estariam também habilitadas para ser sacerdotes em nome de Cristo?

 

Maria Van Hoesel

Kingston, Jamaica

 

 


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