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Autor:Escribano, Diego ;
 
AGENDA LATINO-AMERICANA ANO:2013
 

Quem são os «mercados»?

Diego Escribano


Há décadas que o Consenso de Washington ostenta uma posição dominante com pretensão de modelo único, universal. Os governos de Reagan e Thatcher marcaram o caminho para todo o mundo. Privatizações, desmantelamento dos serviços públicos, menos impostos para os mais poderosos, decadência das classes médias. “Década perdida” na América Latina. Absolutismo de mercado de resultados duvidosos. Segundo a informação que conhecíamos em 2011, a desigualdade nos países da OCDE alcançava a sua cota mais alta nas últimas décadas. Uma elite se beneficiou de um sistema que favorece, que lhe permite dar renda solta na sua avareza. Em tempos de globalização, a elite é global, alguns poucos de cada lugar se beneficiam. Rússia e Brasil acrescentam cada vez mais multimilionários às listas anuais.

Grupos de pessoas, elites, trabalham para render culto ao seu deus, o dinheiro. O lucro máximo. Os mercados são cidadãos com a capacidade de influir, de coagir. Com nomes e apelidos. Com interesses pessoais. Utilizam distintos mecanismos para o seu benefício, enfrentando o bem-estar da imensa maioria.

As agências de qualificação podem realizar predições equivocadas e enviesadas, mas conseguem exercer uma pressão efetiva. A pressão dos mercados, isto é, de uma pequena minoria capaz de impor mudanças de governo e jogar as dívidas para cima dos cidadãos.

Quem levaria para frente o pagamento imediato de uma dívida diante das necessidades básicas dos seus filhos? No nosso mundo, os desejos de um punhado de prestamistas contam mais do que os de milhões de cidadãos.

Bancos com lucros de centenas de milhões expulsam de sua casa pessoas em situações precárias, sem lhes dar possibilidade de negociar, sem procurar uma solução. Exigindo, de outro lado, o pagamento de uma dívida que condiciona o desesperado da vida. A crise econômica dos últimos anos, que tem provocado tanto sofrimento, é fruto da avareza. Alguns penitentes pediam controle aos governantes, para controlar os seus impulsos daninhos. Seu egoísmo incorrigível.

Centenas de milhões de seres humanos permanecem debaixo da pobreza. Enquanto, em cada ano, a indústria armamentista continua sendo um grande negócio para alguns. Só nos Estados Unidos o orçamento anual supera o bilhão de dólares. Precisam fazer sentir o medo e que a roda da guerra não seja detida, para continuar se enriquecendo.

Boa parte do dinheiro que se obtém na mudança de vendas para clientes incômodos acaba em paraísos fiscais, outra ferramenta de uma estrutura criminosa. A sangria do dinheiro para estes lugares, procedente de atividades ilícitas, supõe, segundo dados do Banco Mundial, cerca de bilhão e meio de dólares ao ano. Recursos roubados ao bem-estar coletivo. A fraude fiscal é maior entre os que mais possuem.

A terra se converteu em objeto de especulação. Terra com distribuição de propriedades que não mudam na América Latina. 80% da terra no Paraguai está em mãos de menos de 3% dos proprietários. No Brasil, menos de 2% dos proprietários açambarcam quase a metade das terras.

Os alimentos têm sido produto de exploração: a fome de muitos melhora o balancete econômico de uns poucos. Os especuladores fazem dinheiro do nada, criando artifícios. Os mercados são “uma grande partida de pôquer mundial, da qual participam as oligarquias mundiais e das quais o resto, 99,9% da população mundial somos meros espectadores impotentes, meros peões do sistema”.

As oligarquias mundiais baseiam o seu poder na desigualdade. A ditadura dos mercados só é factível em sociedades desiguais. A desigualdade exige que alguns possam impor os seus interesses. Por outro lado, as sociedades mais igualitárias tendem a controlar esses excessos.

Um por cento controla cerca de 40% da riqueza mundial; 10% dos lugares mais ricos do planeta concentram 85% da riqueza mundial. 50% dos mais pobres dispõem de 1%.

Nos Estados Unidos, epicentro da atual crise econômica, 1% contribui com dois terços do orçamento total em campanhas eleitorais. Os seus interesses estão bem protegidos. 0,01% dos contribuintes soma ¼ de todo o dinheiro que engorda o seu sistema democrático.

Essa minoria, responsável de camuflar os indignados desejos nos cuidados retóricos superficiais está ganhando a batalha. Nos últimos anos as medidas introduzidas pelos governos têm contribuído para enriquecer o 1%. Recortes e austeridade em época de recessão. Desemprego e pobreza como conse-quências inevitáveis.

Warren Buffet, conhecido milionário, afirmou que sua classe ganhou a guerra de classes que se introduziu nos últimos vinte anos.

Sem dúvida, as mudanças são inevitáveis. Tinha razão Roubini ao escrever que a desigualdade gera desestabilidade e ao constatar o fracasso do denominado modelo neoliberal. Nenhum modelo econômico terá legitimidade se não enfrenta o desafio da desigualdade, eliminando a ignomínia que supõe que milhões de pessoas não conseguem vencer suas necessidades básicas.

Em 2008, ante a demonstração da imensa capacidade de influência dos mais beneficiados pelo estado atual das coisas, traduzida na proposta de empregar fundos públicos para corrigir desmandos financeiros, Stiglitz afirmou que tinha chegado “o fim da ideologia de que os mercados livres e desregulados funcionam sempre”.

Posteriormente, finalizava um texto que suscitou um grande debate, com as seguintes palavras: “Os mercados só funcionam como devido quando feitos dentro de um limite adequado de reguladores públicos; e este limite somente pode ser conseguido em uma democracia que reflete os interesses de todos, não os interesses de 1%. O melhor Governo que o dinheiro pode comprar já não é suficiente”.

a desigualdade no mundo

- 1% da população controla aproximadamente 40% da riqueza mundial.

- 10% dos lugares mais ricos do planeta concentram 85% da riqueza mundial.

- Um bilhão de pessoas vivem com 4% da riqueza mundial.

- 1% da população dos Estados Unidos contribui com dois terços do orçamento total em campanhas eleitorais. 0,01% dos doadores contribui com a quarta parte do total.

- Em 2008, a ajuda ao desenvolvimento dos países não chegou a ser uma décima parte do gasto militar mundial.

- Segundo as Nações Unidas, com trezentos bilhões de dólares poderia ser erradicada a pobreza extrema. A cifra supõe a terça parte do gasto militar anual.

- 0,1% da população mundial acumula ativos financeiros no valor de 4,27 bilhões de dólares. Deste 0,1%, 73% são mulheres. 53% são do Japão, USA e Alemanha.

- Em 2012, Carlos Slim continuou sendo a pessoa mais rica do mundo. A sua fortuna é calculada em 69 bilhões de dólares.

- Em 2012, o número de pessoas com patrimônios superiores a um bilhão de dólares alcançou a cifra recorde de 1226. A média da sua fortuna é de 3.700 milhões de dólares. A soma total das suas fortunas é de 4,6 trilhões de dólares.

- Os lucros das 500 pessoas mais ricas do planeta são superiores aos lucros de 416 milhões de pessoas mais pobres.

- No mundo que produz alimentos para cobrir com sobra as necessidades de toda a população, um bilhão de pessoas em todo o mundo se encontram famintas todas as noites.

- 3.500 milhões de pessoas, cerca de metade da população mundial, vivem com menos de 2 dólares por dia.

- A desigualdade é muito mais marcante em todo o mundo do que em qualquer país concreto. Uma injustiça tão grande provavelmente provocaria um cataclismo social e político se acontecesse em qualquer país individual.

- Segundo um cálculo realizado por Oxfam, baseado em dados de distribuição de lucros do Banco Mundial, se fosse possível reduzir a desigualdade mundial, mesmo só ao nível da do Haiti (um dos países com maior desigualdade do mundo), o número de pessoas que vive com menos de 1 dólar por dia seria reduzido à metade: 490 milhões. Seria superior, se fizesse uma distribuição de lucros em um país médio (em termos de desigualdade), como Costa Rica, a pobreza de 1 dólar ao dia baixaria para 190 milhões (um quinto do total atual).

 

Diego Escribano

Madri, Espanha

 

 


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